domingo, 28 de agosto de 2016

Quando eu era adolescente queria ser física para explicar o mundo e desmascarar explicações sobrenaturais sobre qualquer coisa. Num certo sentido, foi bom eu não ter sido, pois teria me transformado numa cética arrogante (espero que hoje eu consiga ser apenas cética). Também precisava da Física para alimentar meu ateísmo (felizmente as Ciências Humanas suprem essa necessidade muito bem, melhor até).

Mas vejo meus ex-colegas da Física formados e sinto uma tristeza misturada com inveja. Como pude abandonar o sonho de ser ‘cientista’, alimentado desde criança? O que deu errado? O sonho era falso? Fraco demais pra se manter diante das dificuldades?

Ainda não consigo saber se me faltou coragem ou condições de seguir adiante. O que afeta nossas escolhas profissionais e nosso sucesso nelas? Bourdieu me vem à mente, assim como a inconfundível e inesquecível sensação de chegar na primeira aula e ver o professor falando uma língua que eu, de fato, não dominava. Frustrações sistemáticas seguiram-se por quatro semestres, até que escolhi outro curso, mas o Instituto de Física nunca ficou pra trás. Ou, melhor dizendo, o fato de eu ter desistido do IF, há mais de 10 anos, nunca ficou pra trás (sequer é amenizado pela conclusão satisfatória de outra graduação na mesma Universidade).

Lembro sempre de um colega que foi super mal na icônica primeira prova de Cálculo I, assim como eu, e na prova seguinte ficou com nota máxima. A pergunta de porque não consegui fazer isso me atormenta sempre. Medo, solidão, falta de persistência, fatores da estrutura acadêmica que estavam fora do meu alcance? Ou simples incapacidade intelectual? Os índices de reprovação nestes cursos são consideráveis, especialmente no primeiro ano. O que separa os que conseguem dar o salto qualitativo necessário daqueles que não conseguem? Sempre disse a mim mesma que seu não estivesse profundamente deprimida quando entrei na Física talvez tivesse conseguido dar conta. Não tenho como saber se isso é verdade ou se é uma mentira que mantive ao longo destes anos.

Agora no mestrado em Educação retorno ao Instituto de Física, tentando entender o que afasta as mulheres das ciências exatas. Dolorosas questões, que ficavam mais ou menos latentes, ressurgem com mais força. Creio que vou concluir a pesquisa com muitas informações interessantes, mas sem uma resposta pra mim.

Começo a pensar no que a Física representa pra mim, talvez seja um caminho pra tentar entender tudo isso, com todas as questões psicológicas e epistemológicas envolvidas.

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