Quando eu era adolescente queria ser física para
explicar o mundo e desmascarar explicações sobrenaturais sobre qualquer coisa.
Num certo sentido, foi bom eu não ter sido, pois teria me transformado numa
cética arrogante (espero que hoje eu consiga ser apenas cética). Também
precisava da Física para alimentar meu ateísmo (felizmente as Ciências Humanas
suprem essa necessidade muito bem, melhor até).
Mas vejo meus ex-colegas da Física formados e sinto
uma tristeza misturada com inveja. Como pude abandonar o sonho de ser
‘cientista’, alimentado desde criança? O que deu errado? O sonho era falso?
Fraco demais pra se manter diante das dificuldades?
Ainda não consigo saber se me faltou coragem ou
condições de seguir adiante. O que afeta nossas escolhas profissionais e nosso
sucesso nelas? Bourdieu me vem à mente, assim como a inconfundível e inesquecível
sensação de chegar na primeira aula e ver o professor falando uma língua que
eu, de fato, não dominava. Frustrações sistemáticas seguiram-se por quatro
semestres, até que escolhi outro curso, mas o Instituto de Física nunca ficou
pra trás. Ou, melhor dizendo, o fato de eu ter desistido do IF, há mais de 10 anos,
nunca ficou pra trás (sequer é amenizado pela conclusão satisfatória de outra
graduação na mesma Universidade).
Lembro sempre de um colega que foi super mal na
icônica primeira prova de Cálculo I, assim como eu, e na prova seguinte ficou
com nota máxima. A pergunta de porque não consegui fazer isso me atormenta
sempre. Medo, solidão, falta de persistência, fatores da estrutura acadêmica que
estavam fora do meu alcance? Ou simples incapacidade intelectual? Os índices de
reprovação nestes cursos são consideráveis, especialmente no primeiro ano. O que
separa os que conseguem dar o salto qualitativo necessário daqueles que não
conseguem? Sempre disse a mim mesma que seu não estivesse profundamente
deprimida quando entrei na Física talvez tivesse conseguido dar conta. Não tenho
como saber se isso é verdade ou se é uma mentira que mantive ao longo destes
anos.
Agora no mestrado em Educação retorno ao Instituto
de Física, tentando entender o que afasta as mulheres das ciências exatas. Dolorosas
questões, que ficavam mais ou menos latentes, ressurgem com mais força. Creio
que vou concluir a pesquisa com muitas informações interessantes, mas sem uma
resposta pra mim.
Começo a pensar no que a Física representa pra mim, talvez seja
um caminho pra tentar entender tudo isso, com todas as questões psicológicas e epistemológicas envolvidas.